terça-feira, 26 de março de 2013

A tradição familiar que se tornou negócio lucrativo


Por Érica Monique e Luciana Oliveira

Feira livre, Centro de Vitória da Conquista

A fabricação de biscoitos caseiros é uma tradição e faz parte da história de Vitória da Conquista. Inicialmente, eram feitos de forma artesanal por famílias que residiam na zona rural e os comercializavam em feiras-livres nos finais de semana. Essas famílias dominavam toda a cadeia de produção, desde o cultivo da mandioca para a produção de fécula ou goma -  como é mais conhecida -  a principal matéria prima dos biscoitos, até a elaboração de receitas, comumente passadas de mãe para filha. As iguarias também dominavam a cena em festividades juninas e casamentos na roça e até hoje frequentam a mesa do conquistense.

Essa tradição remonta mais de um século. “O plantio da mandioca para a produção de farinha, beiju, biscoito e outros produtos para consumo próprio e venda em feiras por famílias da zona rural é uma prática antiga, remonta o passado rural da cidade. Alguns estudiosos da história local falam em mais de cem anos”, informa Marcelo Lopes, historiador. A produção artesanal e familiar em muito foi substituída por micro-empresas que atuam na fabricação e distribuição de biscoitos não só para a cidade e região, como para outros estados do país como para outros estados do país.

Para entender melhor como uma prática familiar e rural se tornou um ramo comercial lucrativo e com cadeia produtiva própria o Letras & Panelas desenvolveu uma série de matérias sobre o tema. Agora você confere a história de duas famílias que vivem do biscoito. São trajetórias diferentes num universo comum: o biscoito de Conquista.

Dona Zilmar

Loja Universo dos Biscoitos
A fábrica Universo dos Biscoitos surgiu da produção caseira de sua proprietária, dona Zilmar Lima. A princípio ela fabricava os biscoitos para o consumo de parentes e pessoas próximas. Ao longo dos anos, com o aperfeiçoamento da atividade, passou a comercializar os quitutes, porém, só em meados da década noventa que ela criou a Universo dos Biscoitos.  Contando hoje com uma equipe de quarenta funcionários, dentre eles um engenheiro químico e um administrador, a fábrica produz e comercializa, além de biscoitos de variados tipos, produtos como licores, doces, bombons, dentre outros.

Conforme a filha da proprietária e administradora da fábrica, Gardene Lima: “a Universo dos Biscoitos existe há cerca de vinte anos. A tradição da produção de biscoitos é familiar, veio dos meus avôs e da ligação da minha mãe com os hábitos da zona rural e a produção da mandioca”, afirma. Para a administradora, Conquista é conhecida como a cidade dos biscoitos, mas esse ainda é um setor informal. “Ao longo dos anos fomos nos especializando, hoje temos uma marca, embalagem, engenheiro responsável e vendemos diversos outros produtos de fabricação própria. Temos um público exigente. Nossos produtos são todos identificados. Distribuímos para cidades como Salvador, Feira de Santana, Palmas e Belém do Pará”, complementa.  

Assim, é raro não encontrar alguém que visite Vitória da Conquista e não queira conhecer ou não tenha o hábito de presentear as pessoas de suas cidades de origem com as iguarias típicas de Vitória da Conquista.  Independente do lugar que o consumidor opte por  comprar os seus biscoitos caseiros (lojas especializadas, fábricas ou feiras livres), opções gostosas não vão faltar.

Barraca do Gil

Barraca do Gil oferece mais de 50 produtos da roça

Gilmar dos Santos Bonfim, 42 anos de idade e 24 de feira livre, é mais conhecido como Gil, apelido que também dá nome à sua lojinha numa feira livre situada no centro de Vitória da Conquista. Ele começou vendendo laticínios como requeijão, queijo e manteiga e aos poucos foi acrescentando biscoitos, beijus, farinha de mandioca e outros produtos ao seu negócio. “A gente tem sempre que inovar”, afirma o proprietário da Barraca do Gil, localizada num setor especialmente dedicado a esse tipo de produto. São três ruelas da feira com inúmeras lojinhas que comercializam os típicos produtos da roça, como também são conhecidos. Curiosamente, boa parte das feiras da cidade conta com um setor desse tipo.

Para Gil a qualidade dos biscoitos produzidos em fábricas é menor se comparada com a confecção artesanal que era mais comum quando ele começou sua carreira de feirante. “A qualidade era diferente porque tudo era feito a mão”, detalha Gil. Mesmo assim, ele informa que o biscoito artesanal é cada vez menor. Para ele “hoje a concorrência é maior, as fábricas estão formalizadas, produzem em quantidade” e o pequeno produtor rural não fabrica mais os biscoitos, vende sua produção de mandioca para fábricas que produzem a fécula que, por sua vez, abastecem outras fábricas que produzem os biscoitos.  

Para manter um padrão de qualidade Gil mantém contato com fornecedores diferentes, mas reclama dos preços praticados por quem produz. Segundo o feirante a margem de lucro é muito pequena e a produção de biscoitos é insuficiente para abastecer o mercado. Uma das causas desse problema é a estiagem que a região vive desde o ano passado. A falta de chuva afetou a produção de mandioca e outros produtos utilizados na fabricação dos biscoitos.

Mas, Gil não se vê fazendo outra coisa. Com a ajuda de sua esposa e duas filhas ele oferece mais de 50 produtos em loja. Os campeões de venda são o biscoito avuador (bolinhas crocantes feitas de goma de mandioca), chimango e os biscoitinhos doces, nomeadamente o casadinho, palitinho e o de maracujá.




sábado, 23 de março de 2013

Chocolate brasileiro tem menos cacau em sua composição


Por Luciana Oliveira


A Páscoa esse ano chegou mais cedo. Já no início de março o comércio de Vitória da Conquista exibia coelhinhos, ovos de chocolate de todos os tamanhos, gostos e valores.  A festividade é considerada a melhor época do ano para produtores de chocolate, sejam eles grandes indústrias ou pequenos produtores. O clima de entusiasmo é embalado por dados com os da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB), que apontam o Brasil como o terceiro maior produtor e quarto maior consumidor de chocolate do mundo. O consumo cresceu e variedade de produtos também. Os dados animadores só não dão conta das mudanças na legislação federal referentes à fabricação de chocolate. Desde 2005 a indústria alimentícia conseguiu autorização para usar gorduras vegetais e menos cacau.

Quem já não é tão garotinho certamente se lembrará com saudades dos chocolates de outros tempos. A sensação é que eles tinham mais sabor do que os de hoje. E tinham mesmo. Antigamente essas gostosuras não só pareciam melhores, como de fato eram. E isso graças a uma resolução federal de 1978, que determinava que todo chocolate deveria conter um mínimo de 32% de sólidos de cacau e manteiga de cacau pura. O açúcar tinha que ser sacarose, podendo ser substituído por glicose pura ou lactose.

Em 2005, uma outra resolução abriu caminho para a perda de qualidade. A decisão, que é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), reduziu a porcentagem de cacau para apenas 25% e desobrigou o uso de manteiga de cacau. Resultado: chocolates-guloseima que colam no céu da boca e não oferecem nenhuma grande experiência de sabor. Por ser mais barato, a indústria opta pela utilização de gorduras vegetais que alteram características fundamentais como sabor, textura e brilho.

Como decidir na hora da compra
Nem tudo está perdido. Em meio a tantas marcas e informações o Letras & Panelas organizou informações que ajudam você a decidir melhor na hora da compra:

- Não se deixe seduzir pelo preço. Apesar da decisão da ANVISA, muitas marcas oferecem chocolates com uma graduação de cacau maior que a exigida. Nestes casos o preço é sempre um pouco maior do que se costuma pagar pelos chocolates mais comuns.
- Leia os rótulos.  Se estiver escrito pó de cacau e gordura vegetal, fuja.
- Invista em chocolates artesanais. Tem muita gente produzindo delícias caseiras com ótimos produtos e, às vezes, o preço também compensa.

terça-feira, 19 de março de 2013

Gastronomia e Jornalismo Cultural



Por Luciana Oliveira




Uma vez uma pessoa me disse que a melhor coisa do mundo é comer. Na época, eu era ainda uma adolescente e discordei. Hoje, já adulta, ainda não concordo totalmente, mas já sei que comida é sim uma das melhores coisas da vida. E não é só pelo ato de comer, ingerir algo saboroso, mas é uma experiência social e cultural.

 Nem sei exatamente quando fui fisgada pelo forno e fogão. O que lembro é que, quando criança, sentava na mesa da cozinha de minha avó materna e fazia uns biscoitinhos de goma em formato de bonequinhos. Anos mais tarde, assistindo ao programa de Ana Maria Braga, na TV Record, transformei minha família em cobaia com um certo bolo de beterraba e calda de chocolate. Eles disseram que gostaram. 

Mas tem o outro lado. Em 2002, comecei uma nova etapa de minha vida: faculdade de Comunicação Social (Rádio e TV). Entusiasmo, perdas familiares, desavenças, mudanças radicais e a faculdade ficou pelo caminho. Em 2010 voltei para a academia, dessa vez optando pelo Jornalismo, atividade que já exercia como assessora de comunicação e repórter de jornal impresso. 

Nesse meio tempo, não me esqueci das panelas.  Ao contrário, a gastronomia só ocupou mais espaço em minha mente, coração e computador. Vieram livros, experimentações, horas dedicadas a descobrir sites, blogs e pessoas interessadas nesse universo mágico que é a gastronomia. E como não dá para largar o Jornalismo de vez e nem me jogar de cabeça nas panelas, resolvi conectá-los. Assim, nasce um projeto antigo: o Letras & Panelas,  um espaço de investigação e descoberta que une a arte de cozinhar ao jornalismo, nomeadamente o cultural. O faro jornalístico em busca de aromas, texturas, sabores, cores, sensibilidades, técnicas e talento.


Por Érica Monique


Na antiguidade clássica o “pai da medicina”, Hipócrates, já dizia que “somos o que comemos”. De certa forma essa frase - que se tornou muito popular em consultórios de profissionais da área da saúde como forma de induzir pessoas a adotarem hábitos de vida mais saudáveis -  até tem a sua razão, visto que a alimentação que temos é refletida em nossa estética, saúde e quiçá em nossa personalidade. 

Preparar um alimento pode ser um ritual na cozinha e comê-lo, uma celebração à mesa. Não sou uma cozinheira nata – ao contrário de minha mãe que é uma “cozinheira de mão cheia”-, mas, como boa taurina que sou, sempre fui uma grande apreciadora de uma comida de qualidade.  Desde pequena sou curiosa, não me refiro apenas à culinária, mas a inúmeros aspectos da vida. Quando criança, queria aprender a criar pratos e inventar as minhas próprias receitas.  Na fase adulta, ao ingressar na faculdade e ir morar sozinha, o que era diversão virou obrigação. Preparar as minhas próprias refeições é uma questão de “sobrevivência”. 

Ainda continuo admirando a gastronomia em seus inúmeros aspectos, sejam estéticos, culturais, históricos ou antropológicos, mas, entre experimentos, acertos e tropeços, cheiros, sabores e dissabores, eu prefiro a opção “comer” e “admirar” uma comida saborosa e bem servida -  feita por outras pessoas, de preferência. Hoje vejo que sou muito mais amante da boa comida do que da manipulação e preparação de alimentos.

Entre idas e vindas da vida acadêmica, pessoal e profissional, meu interesse pela comunicação me fez ampliar a visão a novos campos do saber. A gastronomia, muito mais que uma manipulação de alimentos, surge como uma forma de entendimento da dinâmica social. Nesse quesito, o Letras & Panelas - inicialmente idealizado por Luciana Oliveira, uma amante da arte gastronômica, e reformulado por nós, enquanto colegas do curso de Comunicação, para disciplina Jornalismo Digital - destacou um ponto em comum entre as duas: a grande afinidade de ambas pelo Jornalismo Cultural.

Assim, o Letras & Panelas, com uma abordagem descontraída acerca da gastronomia, pretende alcançar não só pessoas ligadas diretamente à culinária, como, também, “semi-leigos” (como eu). Entre receitas, comunicação, cultura e história, o amplo universo que envolve a gastronomia será abordado para todos que, acima de tudo, querem unir uma boa comida, um papo descontraído e muita  diversão.  

Sejam bem vindos ao Letras & Panelas!