Por Érica Monique e
Luciana Oliveira
Feira livre, Centro de Vitória da Conquista |
A fabricação de biscoitos caseiros é uma tradição e faz parte da
história de Vitória da Conquista. Inicialmente, eram feitos de forma artesanal
por famílias que residiam na zona rural e os comercializavam em feiras-livres
nos finais de semana. Essas famílias dominavam toda a cadeia de produção, desde
o cultivo da mandioca para a produção de fécula ou goma - como é mais conhecida - a
principal matéria prima dos biscoitos, até a elaboração de receitas, comumente
passadas de mãe para filha. As iguarias também dominavam a cena em festividades
juninas e casamentos na roça e até hoje frequentam a mesa do conquistense.
Essa tradição remonta mais de um século. “O plantio da mandioca
para a produção de farinha, beiju, biscoito e outros produtos para consumo
próprio e venda em feiras por famílias
da zona rural é uma prática antiga, remonta o passado rural da cidade. Alguns
estudiosos da história local falam em mais de cem anos”, informa Marcelo Lopes,
historiador. A produção artesanal e familiar em muito foi substituída por micro-empresas
que atuam na fabricação e distribuição de biscoitos não só para a cidade e
região, como para outros estados do país como para outros estados do país.
Para entender melhor como uma prática familiar e rural se tornou
um ramo comercial lucrativo e com cadeia produtiva própria o Letras &
Panelas desenvolveu uma série de matérias sobre o tema. Agora você confere a
história de duas famílias que vivem do biscoito. São trajetórias diferentes num
universo comum: o biscoito de Conquista.
Dona
Zilmar
Loja Universo dos Biscoitos |
A fábrica Universo dos
Biscoitos surgiu da produção caseira de sua proprietária, dona Zilmar Lima.
A princípio ela fabricava os biscoitos para o consumo de parentes e pessoas
próximas. Ao longo dos anos, com o aperfeiçoamento da atividade, passou a
comercializar os quitutes, porém, só em meados da década noventa que ela criou
a Universo dos Biscoitos. Contando hoje com uma equipe de quarenta funcionários,
dentre eles um engenheiro químico e um administrador, a fábrica produz e
comercializa, além de biscoitos de variados tipos, produtos como licores,
doces, bombons, dentre outros.
Conforme a filha da proprietária e administradora da fábrica,
Gardene Lima: “a Universo dos
Biscoitos existe há cerca de
vinte anos. A tradição da produção de biscoitos é familiar, veio dos meus avôs
e da ligação da minha mãe com os hábitos da zona rural e a produção da
mandioca”, afirma. Para a administradora, Conquista é conhecida como a cidade
dos biscoitos, mas esse ainda é um setor informal. “Ao longo dos anos fomos nos
especializando, hoje temos uma marca, embalagem, engenheiro responsável e
vendemos diversos outros produtos de fabricação própria. Temos um público
exigente. Nossos produtos são todos identificados. Distribuímos para cidades
como Salvador, Feira de Santana, Palmas e Belém do Pará”,
complementa.
Assim, é raro não encontrar alguém que visite Vitória da Conquista
e não queira conhecer ou não tenha o hábito de presentear as pessoas de suas
cidades de origem com as iguarias típicas de Vitória da Conquista. Independente do lugar que o
consumidor opte por comprar os seus biscoitos caseiros (lojas
especializadas, fábricas ou feiras livres), opções gostosas não vão faltar.
Barraca do Gil
Barraca do Gil oferece mais de 50 produtos da roça |
Gilmar dos Santos Bonfim, 42 anos de idade e 24 de feira
livre, é mais conhecido como Gil, apelido que também dá nome à sua lojinha numa
feira livre situada no centro de Vitória da Conquista. Ele começou vendendo
laticínios como requeijão, queijo e manteiga e aos poucos foi acrescentando
biscoitos, beijus, farinha de mandioca e outros produtos ao seu negócio. “A
gente tem sempre que inovar”, afirma o proprietário da Barraca do Gil,
localizada num setor especialmente dedicado a esse tipo de produto. São três
ruelas da feira com inúmeras lojinhas que comercializam os típicos produtos da
roça, como também são conhecidos. Curiosamente, boa parte das feiras da cidade
conta com um setor desse tipo.
Para Gil a qualidade dos biscoitos produzidos em fábricas é menor
se comparada com a confecção artesanal que era mais comum quando ele começou
sua carreira de feirante. “A qualidade era diferente porque tudo era feito a
mão”, detalha Gil. Mesmo assim, ele informa que o biscoito artesanal é cada vez
menor. Para ele “hoje a concorrência é maior, as fábricas estão formalizadas,
produzem em quantidade” e o pequeno produtor rural não fabrica mais os
biscoitos, vende sua produção de mandioca para fábricas que produzem a fécula
que, por sua vez, abastecem outras fábricas que produzem os biscoitos.
Para manter um padrão de qualidade Gil mantém contato com
fornecedores diferentes, mas reclama dos preços praticados por quem produz.
Segundo o feirante a margem de lucro é muito pequena e a produção de biscoitos
é insuficiente para abastecer o mercado. Uma das causas desse problema é a
estiagem que a região vive desde o ano passado. A falta de chuva afetou a
produção de mandioca e outros produtos utilizados na fabricação dos biscoitos.
Mas, Gil não se vê fazendo outra coisa. Com a ajuda de sua
esposa e duas filhas ele oferece mais de 50 produtos em loja. Os campeões de
venda são o biscoito avuador (bolinhas crocantes feitas de goma de mandioca),
chimango e os biscoitinhos doces, nomeadamente o casadinho, palitinho e o de
maracujá.